No mundo globalizado em que vivemos torna-se vital discutir a temática dos direitos da criança. Este blog pretende... dentro do possível...contribuir para essa discussão a partir da Sociologia da Infância.
que eu sinta os pulmões com duas velas pandas e que eu diga em nome dos mortos e dos vivos em nome do sofrimento e da felicidade em nome dos animais e dos utensílios criadores em nome de todas as vidas sacrificadas em nome dos sonhos em nome das colheitas em nome das raízes em nome dos países em nome das crianças em nome da paz que a vida vale a pena que ela é a nossa medida que a vida é uma vitória que se constrói todos os dias que o reino da bondade dos olhos dos poetas vai começar na terra sobre o horror e a miséria que o nosso coração se deve engrandecer por ser tamanho de todas as esperanças e tão claro como os olhos das crianças e tão pequenino que uma delas possa brincar com ele
(António Ramos Rosa, de Viagem através duma Nebulosa, 1960)
Podemos afirmar que as sociedades contemporâneas são atingidas por um processo de Mcdonaldização (Ritzer, 1998) ou pela metáfora de Coca-Colonização do mundo de Bhabha (2003). Não se trata apenas do consumo por si só, ou seja, da aquisição de produtos e materiais, mas fundamentalmente do consumo de signos e imagens, tornando desta forma as mercadorias em ilusões culturais (Featherstone, 1991) que os indivíduos desejam consumir.
Com a globalização dos media, o estilo de consumismo associado às sociedades capitalistas difundiu-se do centro para a periferia. E, segundo Gunter e Furnham (1998), o mercado infantil adquiriu uma importância extrema, sobretudo por duas razões: pelo impacto que as mensagens dirigidas às crianças têm junto delas e pelo papel que as crianças podem desempenhar ao influenciar a compra de produtos pelos pais, que só nos Estados Unidos da América, atingiu cerca de 172 biliões de dólares. Os mesmos autores salientam a questão da protecção dos consumidores infantis, uma vez que as estratégias desenvolvidas pela aliança indústria/publicidade a fim de conquistar a área da infância são, desde muito cedo, um mercado ávido e reivindicativo perante o poder de compra que, neste caso, os pais consubstanciam. É possível, pela primeira vez na história, definir estratégias de marketing global dirigida às crianças - generation market clout (Gunter e Furnham, 1998).
As crianças estão inseridas na moderna cultura do consumo, tecnológica e urbana, que confere existência e situa a consciência colectiva (Fortuna, 1999). Esta relação composta, híbrida e complexa, expressa na relação global-local, é representada pelos brinquedos e brincadeiras, vestuários, música das crianças, ideais de consumo.
Revelam, pelos discursos e comportamentos, processos que supõem as suas vivências pessoais e familiares e de vizinhança e, simultaneamente, as ofertas culturais de uma cultura global.
Vejam Criança, a alma do negócio, de Estela Renner e Marcos Nisti, que foi lançado no 2º Fórum Internacional Criança e Consumo (23 de Setembro de 2008), no Instituto Itaú Cultural, em São Paulo (Brasil):